CRÍTICA | Atlas é um sci-fi de seu tempo, para o bem e para o mal

Atlas é Jennifer Lopez e Jennifer Lopez é a bola da vez na Netflix. Depois do sucesso de ‘A Mãe’, o segundo filme da Nuyorican Productions – pertencente a Lopez – chega à plataforma nesta sexta-feira, 24 de maio, com muita expectativa para emplacar mais uma vez com a audiência. Mas será que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar?

O novo filme com robôs gigantes da Netflix chega comprometido com a ação e traz como tema principal a evolução da Inteligência Artificial e seu impacto no mundo. Por quase duas horas, a película traz a agente Atlas Shepherd (Jennifer Lopez), membro do CIN (Coalizão Internacional de Nações) – organização que combate o terrorismo perpetuado por IAs e que cuida da segurança do nosso planeta – em sua busca obsessiva para encontrar Harlan (Simu Liu), um androide IA que é líder terrorista e responsável por uma guerra que matou milhões de humanos e fugiu da Terra há mais de duas décadas, prometendo que iria retornar para eliminar o restante da humanidade.

Esse é o ponto de partida para uma aventura que se propôs a discutir nossas relações com a tecnologia e abordando em paralelo relações humanas, como confiança, vingança e amor. Entretanto, como em tantas outras obras com viés mais popular, a abordagem pende mais para ação e deixa de lado o aprofundamento nas questões que poderiam tornar esse filme mais reflexivo.

Humanidade X IAs

Atlas é um filme chamativo, afinal temos um elenco de peso e uma premissa interessante. Além de Jennifer Lopez e Simu Liu (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis, Barbie), temos Sterling K. Brown (This is Us, American Fiction) e Mark Strong (Kingsman, Shazam), dois ótimos atores totalmente subaproveitados no filme. Mas esta é uma obra para que Lopez brilhe – afinal, ela é a dona da produtora. Mas, aqui não desmerecemos Jennifer, uma atriz versátil, que já se provou em obras de terror, comédia, drama e já está bem acostumada com thriller de ação.

Num futuro onde a inteligência artificial se tornou onipresente, todos os afazeres possíveis são retratados em tela sendo executados por máquinas ou programas com implemento de IAs. Um futuro possível e talvez nem tão distante do nosso. Muito do que é mostrado em tela, como a interação com assistentes virtuais e robôs realizando trabalhos braçais já podem ser encontrados em nosso tempo, mesmo que em conceito.

O grande destaque fica para os androides, muito similares aos vistos no jogo Detroit: Become Human ou mesmo em outra obra que aborda o tema, A.I. – Inteligência Artificial (2001) de Steven Spielberg. Em todos esses filmes, um pensamento recorrente é o dilema enfrentado pelas máquinas ao se deparar com emoções humanas, e em Atlas não é diferente.

Projetados para serem companheiros dos humanos, os auxiliando em tarefas diárias, as IAs realizam um genocidio ao redor do globo sob a liderança de Harlan. Após esse grande embate, Harlan foge do nosso planeta com alguns asseclas e diz que pretende exterminar a raça humana, que eles enxergam como o grande mal que aflige o planeta Terra. “Proteger os humanos deles mesmos e guiá-los para um futuro melhor”, parafraseando o personagem de Liu.

Para combater os terroristas IAs – que são bem mais fortes, rápidos e habilidosos – é criada uma força especial, que tem como linha de frente os rangers operando grandes trajes de combate chamados de ARC – o que rendeu comparações com a franquia de games, Titanfall –  que são operadas por IA integrando-se aos pilotos e criando um vínculo neural, tal qual Evangelion e Pacific Rim, tornando um uníssono. 

Um filme que tinha tudo para brilhar, mas resolveu permanecer num lugar comum.

Como se fosse feito por uma Inteligência Artificial

Talvez eu tenha sido um pouco dramático com o título acima. Atlas diverte e te mantém atento pelas duas horas de filme. O cerne da narrativa se constroi através da relação de Shepherd e a IA Smith, que integra o traje ARC que ela ocupa. Todas as tensões e plots do filme são centrados nas negativas de Atlas em integrar a sua mente à IA para criar o vínculo. Tudo isso devido ao seu passado trágico, onde sua confiança foi quebrada por uma IA.

Confesso que dei risadas e simpatizei por interações de Lopez com a máquina, suas discussões e dilemas, sempre levando em questão a relação das IAs com a humanidade e se uma suposta alma seria apenas um direito humano.

Com exceção de algumas cenas de ação – afinal, batalhas de robôs, né – e a parceria entre Atlas e Smith, todo o restante do filme é bem esquecível. O próprio vilão, Harlan, interpretado por Liu, cria uma grande expectativa durante todo o filme, mas acaba entregando uma aparição bem morna.

Atlas
Divulgação/Netflix

Não acredito que Brad Peyton, conhecido por filmes pipoca como Terremoto: A Falha de San Andreas e Rampage: Destruição Total (ambos com The Rock), seja o grande responsável pelo clima morno de Atlas. Talvez o roteiro de Leo Sardarian e Aron Eli Coleite seja o culpado, por não se aprofundar em questões mais interessantes. Mas acredito que esse nunca foi o foco. Embora a discussão quanto às questões éticas que a IA apresenta estejam em alta, o filme de Lopez deseja apenas surfar na onda do algoritmo e entregar mais um filme de temporada, que não será referenciado futuramente. 

Mas em tempos de conteúdos influenciados por IA e timelines direcionados por algoritmos, talvez esse seja um bom exemplo de uma obra audiovisual que representa o nosso tempo: apenas uma diversão temporária.

Atlas chega para todos os assinantes da plataforma de streaming Netflix em 24 de maio.

Compartilhe